domingo, 11 de fevereiro de 2007

Não foi apenas mais uma morte.

E nunca será apenas uma morte... A violência sofrida pela menino João Hélio, de 6 anos de idade no Rio de Janeiro, na última quarta-feira, vem nos mostrando o crescente círculo vicioso do total descaso das autoridades no Brasil. Assim como ele, outras tantas pessoas vem morrendo por conta da enorme violência que vem crescendo nesses últimos tempos. Demorei um pouco para começar a escrever esse artigo, pois não via como abordar um assunto tão delicado sem transparecer minha total indignação com o fato, e optei por não entrar em detalhes sobre a morte do pequeno garoto.

É preciso que uma criança de seis anos morra de forma bárbara para que as nossas autoridades observem o que está acontecendo nesse país? Para a mídia voltar suas câmeras para o lado que mais padece dessa sociedade? Perguntas tolas, porque a maioria não terão resposta imediata, assim como o coração afogado de tristeza da mãe do pequeno João não terá sossego, pois o filho dela, foi morto não somente pelos bandidos que praticaram de fato o crime, mas pelo descaso social, pelas milhares de pessoas que fechamos olhos para situações como essas e apenas acham ser mais um no meio de uma amostra.


Tudo está errado. A mãe que chora a perda de seu filho de seis anos, o pai envergonhado que entrega seu filho assassino para a polícia. Não se cria os filhos para morrerem tão jovens, não se cria filhos para matar os filhos dos outros.



Só abrimos os olhos quando algo nos mostra que a crueldade não priva ninguém. Não foi apenas um ato desumano o que fizeram com aquela criança, não há palavras para explicar. Os animais são mais humanos do que esses tais, que nem pessoas são.


Discutiu-se muito esses dias sobre o que fazer para evitar casos como esse, ainda mais pelo envolvimento de um adolescente. Mudança na maioridade penal? Muitos dizem que não irá adiantar, outros acham que jovens que cometem crimes bárbaros devem ser julgados da mesma forma que um adulto. Outros esqueceram desse detalhe e partiram para vertentes de base, o problema é a educação, ou melhor a falta dela nas comunidades carentes. Sim, é uma verdade, como já diziam os mais velhos : "Mente vazia, oficina do Diabo". Sérgio Cabral defendeu a autonomia dos estados, de certo cada um tem seu índice de violência diferenciado. O ministro busca punições rigorosas para esses assassinos. Mas só pra eles seu ministro? Enquanto espera-se que os nossos governantes façam algo pessoas morrem, crianças como João Hélio, homens e mulheres trabalhadores comuns que batalham todos os dias para garantir sua SOBREVIVÊNCIA.

Mas um parentêse no meio de tudo isso: A Força Nacional de Segurança não tinha ido pro Rio de Janeiro?Ah, ela foi sim, mas não para proteger a população, mas para dar proteção há cúpula do Mercosul que aqui estava para discutir problemas do bloco econômico. Percebe-se que as prioridades, desde há muito tempo dos governantes são outras, economia, aparência para outros países, e quando todos saem, o caos volta a reinar. Vamos senhor presidente, governe para seu povo que padece pela falta de protecionismo e não bajule os diplomatas, é aqui que mora quem lhe elegeu! Isso não é uma crítica, é um apelo.


Nesta semana eu fiquei de luto. Me perguntavam porque o luto? O LUTO é pela criança que morreu, é mais uma vida perdida nessa encruzilhada de dor. Não sou da família, também não conhecia ninguém, mas a minha consciência falou mais alto, a dor daquela mãe serviu de espelho para muitas outras imaginarem "se fossem seus filhos".. O que fariam?


Não há nada que apague da lembrança do que vimos nos últimos dias. Um país sem ação, um estado sem lei, e cidadãos de bem tendo que viver em cárcere privado, e sem saber quando saem para trabalhar se ainda regressarão....


6 comentários:

Dicionário internacional disse...

Perfeita a sua abordagem sobre o tema, me emocionei e vários trechos de seu artigo faço minhas palaras !!! É preciso dar um basta !!!!!! Parabéns pelo artigo !

Anônimo disse...

Hj de manhã chegou o jornal aki em casa. O Estadão. Dei uma folheada por cima. Vi a notícia sobre o João. Nem ia ler. Pois não aguentava mais tantos detalhes desnecessários. Aí vi a foto do menino. Naquele segundo, juro, tudo parou. Uma das poucos vezes que senti tanto ódio e tristeza ao mesmo tempo. Uma coisa é falarmos "um menino morreu", outra, é vermos a foto do menino. E não é que era apenas um menininho? Estou enojado mais uma vez.

Sobre o seu texto, meu, foi um dos melhores que já li sobre esse caso! Quero destacar três pontos que me surpreenderam.

1. O abuso de detalhes que a mídia colocou, precisava? Claro que não. Mas há maneira melhor de vender?

2. O seu último parágrafo expressa tudo. Simplesmente vivemos em cárcere privado e não nos damos conta! Execelente!

3. E por último, porém para mim foi o mais importante. Como aki eh um mundo 100% virtual, talvez a gente pareça o que não é. rs... Sou estudante de jornalismo. Último ano. Tenho mtaaaa coisa ainda pra aprender... ainda bem, neh ? rs .. Mas, juro, não eh bajulação, quando me deparei com "Não foi apenas mais uma morte" fiquei paralisado. Há maneira de não ler um texto desse? Li milhares de blogs que tratavam do meninmo João. Achei vários textos interessantes (e arrumei mta briga por sinal, olhe no meu blog pra ver rs) .. mas .. em nenhum o título me chamou tanta atenção!

Não foi apenas mais uma morte. A torre apagou... O lixo continua. Meu, são simplesmente fantásticos! Obriga a pessoa, mesmo sem tempo a ler o texto. Pq o título prende vc. Pelo título sabemos que o texto expressa inteligência, revolta, e desabafo.

Li seus texto 3 vezes. Foi um dos que mais eu concordei. Em nenhum momento precisei brigar com vc.. rs ..

Meus sinceros parabéns!

E aproveitando, fiquei curioso em saber qual sua atividade .. estudante ou alguma outra.

Abraços e mais uma vez parabéns !

Mario Camarão disse...

Olá Natasha! fiz uma breve garimpada no seu Blog e vi que tens uma ótima veia poética. Legal. Seu texto é ótimo. Parabéns.
Vou vir mais vezes aqui. abs.

Uilians Uilson disse...

Natasha, concordo com tudo. Enquanto esses governantes não levarem esse país a sério ainda vamos continuar a ver muitas destas tragédias acontecerem e nós vamos ficar com essa sensação de medo e terror social. Talvez precisemos de uma nova revolução onde novos valores e condutas seja ressaltadas em favor do ser humano. Até quando isso irá acontecer? É a mesma pergunta que eu faço todos os dias quando lembro desta e outras tragédias que acontecem pelo Brasil... Gostei do seu blog Parabéns pela iniciativa. Acho que somente assim podemos acordar esse país...

Uilians Santos
Palavras Certas

Um beijop e sucesso

http://certas.blogspot.com

LIGENCIA disse...

Nat!
Escrevi um texto no meu blog que fala disso, o seu tá ótimo tmb!
Mas demorei horrores pra escrever pq não conseguia mesmo, você sabe...
O João mudou a minha forma de ver o mundo, o Brasil e principalmente as pessoas!
tenho muita vontade de conhecer a família dele e dizer que sofri e ainda sofro junto com eles! Rezo todos os dias pela alma dele!
Não quero ver as fotos dele morto... Só quero ver como ele era vivo, o que ele gostava de fazer, conhecer um pouco mais dele.
Tenho muita vontade mesmo de conhecer a familia dele, e dar meu apoio a eles!
quem sabe um dia...isso nunca vai sair da minha cabeça, nunca vou esquecer!
bjus

APRENDIZ DE POETA disse...

Belo e comovente depoimento esse seu Naná. Gostei muito
e você me fez lembrar de um poeminha que escrevi em resposta a outro de uma amiga peotisa de BH qdo isso ocorreu com o menino.
Permita-me incluir aqui o que escrevi à época e aceite os meus sinceros parabéns pela forma como você descreveu o ocorrido, demontrando bem sua sensibilidade e cidadania...

Nua e Crua

A poesia tem salvo conduto
Condutora, ela é pura!
É arte! Transcende!
Dizem que pensar é transgredir.
Certo! Nada mais limpo. Humano!
Que o coração do poeta gritando.
Se o poema nasce com regra...
Não nasce, padece no ventre.
Ou morre ali...mais à frente.
O poema tem que ser livre
Não é versículo bíblico
É o grito de amor desesperado
Que se dá, sem cuidado...
Para entrar como oxigênio no sangue,
No corpo e n’alma dos apaixonados
Se ele for cerceado, censurado
Por moralistas desinformados
Os versos murcham, morrem, matam!
Como mataram o menino arrastado.
Covardes, esquecidos do amor...
Vocês são os profetas do ódio
O mesmo que vive escondido
No coração desumano dos criminosos.
Que esquecidos do amor...condenam
O que há de mais belo: a sensibilidade!
De saber que nascemos para criar
É aqui que mora a vida, a felicidade...
Poder se expressar quando a dor,
O desamor, a selvageria, a barbárie
Quer tomar o lugar da Paz.
Vamos conjugar o verbo AMAR?!

Hildebrando Menezes
Brasília/11/02/2007

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