sábado, 27 de janeiro de 2007

Sacrificados pela saúde.

Com o meu trabalho no sindicato dos Servidores Públicos Federais, estou conseguindo ver muito mais além do que meu mundo.
Realidades diferentes da minha e de tudo o que está em minha volta. De fato são situações mais complexas, outras vezes triste e injusta, mas que servem para adquirirmos uma consciência mais crítica e aberta a diversos setores sociais.

Ultimamente, tenho me envolvido muito com algo que desconhecia, ele se chama Os Intoxicados da FUNASA (Ex-SUCAM), um filme que até agora não sabemos onde irá terminar.

Já se passaram mais de 12 anos desde a primeira suspeita de intoxicação pelos agentes (inseticidas) que inibem doenças, como a malária, doença de Chagas e etc., e até hoje nada foi feito para remediar ou dar um tratamento digno a esses servidores que necessitam de um cuidado médico especial. De acordo com os processos já movidos pelos trabalhadores, a FUNASA rechaçou todos eles, alegando que o quadro clínico apresentado nos resultados, não eram verdadeiros. Portanto sugere-se que o referido órgão tenha tratado os servidores que não estavam em campo trabalhando, de preguiçosos e vagabundos, não seria essa uma contradição tendo em mãos variados resultados de exames toxicologicos, entre outros que comprovam a incapacidade dos servidores de permanecerem em um ambiente de trabalho inadequado a sua situação de saúde?

Pessoas que trabalharam arduamente nas florestas do sul do Pará e em outras regiões do estado e até mesmo do Brasil, se dedicando a erradicação das doenças tropicais, respirando o mesmo veneno que era destinado aos mosquitos. Sem equipamentos e informações adequadas, sem tratamento especial de verificação de exames médicos, hoje padecem com a falta de respeito e reconhecimento da Fundação Nacional da Saúde ( Saúde pra quem? Que ironia, não?).

Uma grande contradição, pois um órgão que cuida da saúde pública, deixa a mercê as pessoas que concretizam a ação para livrar a população dos maléficios provocados pelos insetos. De certo, após todo esse tempo expostos a elevadas quantidades de inseticida, como os agentes organoclorados e fosforados, além de peritróides, não se pode fazer muita coisa, entretanto garantir cuidados especificos para a prolongação da vida dos mesmo e garantias as famílias dos trabalhadores, é um dever que teoricamente, a FUNASA tem para com eles.

As condições de saúde desses trabalhadores não são as melhores, os nivéis de intoxicação quando chegam a estágios elevados, provocam o estado de depressão profunda, abalos do sistema nervoso central, mutação genética deixando-os a beira de ataques involutários, passando por Neuropatias Sensitivas Motoras, MONONEUROPATIA MÚTIPLA CRÔNICA, chegando a coma e consequente óbito. Eis a pequena amostra do que os agentes inseticidas já fizeram na vida de muitos dos servidores que trabalham na Funasa.

Vários exames já foram realizados comprovando os níveis de intoxicação e agravamento das mesmas no organismo dos agentes de saúde, todas elas não foram aceitas pela FUNASA, ou seja os pedidos de afastamento e aposentadorias, foram negados, estabelecido que os trabalhadores deveriam voltar ao seu posto de trabalho. Como assim? Se alguns deles possuem dificuldades de andar devido a dores em suas articulações, intoxicações exógenas por DDT e incapacitados para prosseguirem em suas atividades de trabalho.

Servidores apresentando mais de três laudos médicos, de diferentes especializações, e todos diagnosticam o mesmo resultado: "Paciente que trabalhou anos com inseticidas, adquiriu POLINEUROPATIA PERIFÉRICA TÓXICA doença CRÔNICA, DEGENERATIVA e INCURÁVEL que o incapacitou definitivamente para desempenhar qualquer atividade de trabalho".

Será pouco para que a FUNASA garanta os direitos, desses que serviram para dar saúde sacrificando uma boa parte de sua vida para salvar outras? Quantos laudos ou quantos mais precisam morrer para que seja tomada alguma atitude? Ou melhor, tenho uma indagação pertinente a essa situação: Será que a FUNASA, deseja fazer com que essas pessoas sejam esquecidas, e abafar o caso como todos os órgãos governamentais fazem sempre quando não querem assumir a culpa que possuem?

De certo, essa é uma questão que ainda precisa ser discutida, mas enquanto divagamos nesse assunto, pessoas morrem, e nenhuma garantia lhe são dadas, nem a um enterro digno, no qual colegas intoxicados fazem coleta de R$ 10,00 para enterrar um amigo de trabalho, na incerteza de que terão ou não o mesmo fim. Alguns, se isolam do convívio familiar, é a depressão causada pelas mutaçoes genéticas do DDT e MALATION, e poucos são esclarecidos desse assunto.Não se trata de um final poético, mas de um final triste e injusto para pessoas que dedicaram suas vidas na preservação de outras. Particularmente, não é um sacrificio justo.

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